sábado, 20 de março de 2010

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Ah, pouco importa que tu andes, de novo amor, nova paixão, toda contente. O que vale é pensar que você pensa em mim, o resto é ontem e as perdições do mundo.

Civilizadíssimos, entendemos quando não tem mais volta, até já estamos com outros enxerimentos e paixonites de veraneio, mas, na buena, o que vale é a canção, o mantra, a ilusão derretida, o fio de manteiga que escorre ainda do nosso último tango em Paris ou forró no Agreste – neste caso com manteiga de garrafa, tão mais derretidinha de ao ponto de desmanchar sobre a tapioca moral da existência.

Onde você estiver, não se esqueça de mim.

Como vivemos desse fiapo de nada!!! Machos e fêmeas. Seria o orgulho de não ser apagado da memória cada vez mais fraca do outro?

Amor é Alzheimer.

Por isso que muitas vezes, como diz minha amiga, professora, mestra e doutora Luciana Araújo, não há telefonema no dia seguinte. Nunca é por maldade. Todo esquecimento tem álibi e diagnóstico.

Por um momento, pensar que você pensa em mim. Basta isso, mesmo com o teu silêncio, como nunca tivesse me visto, nem boas festas e feliz ano novo, pôxa, que gelo baiano, mineiro, siberiano, londrino.

De que adiantou eu ter quebrado tudo e ser um monstro? Um animal precisa ser reconhecido como tal. O resto é psiquiatria e química a serviço da vida.

Não te peço nada, sequer o protocolo das datas, feliz aniversário etc, quero apenas que, vagamente, por um momento você pense em mim e resmungue, baixinho: filho da p…, canalha, que lindo que deu tudo certo e depois tudo errado.

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-Xico Sá

segunda-feira, 8 de março de 2010

Esses dias

Já não consigo escrever tanto, me decifrar, nem – muito menos – me achar nessas palavras que sempre me teve tanto sentido. Às vezes o silencio me fazia tão bem, mas agora me sufoca e me ofusca, me afunda nos meus medos e nessa sobriedade chata, vazia. Acendo um cigarro e prendo minha atenção para que o telefone toque. Mas ele continua brincando de quem fica mais tempo quieto. Os amigos moram fora, saem fora, namoram, casam, arranjam outros amigos, ah e tudo que eu quero é gritar. O tempo me deixou pra tas, me passou uma rasteira. Estou ficando velho gordo ranzinza mordaz e amargo e não há nada que eu ou você ou qualquer outra pessoa pode fazer em relação a isso. A verdade é que já nem eu me agüento mais, quero deitar e relaxar, to cansado dessa loucura, dessa mesmice desse tédio. Quero ficar dias fora na casa do vazio fazendo nada e pensando em esquecer qualquer coisa que me faça levantar do chão. Poderia virar mendigo, andarilho, hippie, mas isso não teria graça sem você do meu lado. Não, isso seria mais chato.
Ouviu, ouviu esse grito? Diga que sim se não minha mãe estaria certa d’eu ser louco, cada vez mais louco... me passa esse copo, preciso amar minha alma, alimentar meus vícios, diminuir os vínculos, passar a tarde de domingo no carro em algum ponto onde dá pra ver o sol abandonando o dia, por favor me dê alguma aventura! Não, não sou agressivo e não vou te machucar, não com socos ou pontapés, mas eu só tenho desespero ânsia de não querer mais nada e ao mesmo tempo alvejar tudo e fazer planos e deixar a barba crescer e ver a noite e o frio nos juntarem entre cobertores.
Olha quanto tempo se passou... Meu cabelo já tampa a tatuagem, minha barba cresce mais rápida, meus dentes amarelados, já não rio com tanta facilidades e faz séculos que não choro. O que mais mudou e eu não percebi? Sim, minha insônia não me consome tanto. Ah, eu só queria gritar, ir para no meio do nada, escutar Bon Iver e tomar minha vodka. Eu só queria desaparecer, me esquecer por uns dias e seria muita ousadia eu pedir pra que você desaparecesse junto comigo pra brindar essa minha insanidade e mais um ano de tédio?